domingo, novembro 20, 2011




Recursos para incentivar a leitura do disléxico

Maria Masarela M. dos Passos
Pedagoga – Psicopedagoga Reconhecida pela ABPp
Formação em Dislexia e Psicanálise.


Reuni algumas informações para auxiliar o seu filho(a) ou aluno(a) a tornar-se um bom leitor.
A característica de um bom leitor é a capacidade de ler um texto com fluência e ter boa compreensão. Para que ocorra a leitura da palavra, texto, história, com precisão, acessamos as nossas experiências, competências, habilidades neurais, que integram todas as características das palavras que estavam estocadas na área do cérebro e são ativadas, formando uma ponte entre a decodificação e a compreensão.
Deixo claro que a fluência não é um estágio em que repentinamente o indivíduo passe a ler todas as palavras fluentemente.
A fluência ocorre com trabalho diário, que deve ser estimulado todos os dias com duração mínima de quinze minutos.
Com este trabalho o indivíduo passa a ter:

 Foco na leitura oral;

 Oportunidades para a prática, permitindo a leitura e releitura das palavras em voz alta em um texto conectado;

 Feedback contínuo enquanto a criança, o adolescente lê. Ler em voz alta para que o feedback seja possível.

O feedback é importante porque permite que a criança modifique sua pronúncia de uma determinada palavra, e simultaneamente corrija o modelo neural dessa mesma palavra para que ele(a) passe cada vez mais a refletir sua pronúncia e ortografia exata.
Essa técnica de repetição com o feedback é chamada de leitura oral repetida orientada – primeiro o tutor lê um parágrafo em voz alta e em seguida a criança ou o adolescente lê esse mesmo parágrafo.
Este tipo de leitura pode ser realizado com textos variados, usando os seguintes recursos: coral, teatro, poemas, cordel.
Com base nesse modelo, a abordagem para o ensino da compreensão tem como foco o fortalecimento e a ampliação do conhecimento das palavras e de mundo do leitor, bem como a disponibilização de uma série de estratégias para que organize e direcione seu pensar enquanto lê.
Há um método chamado de leitura em pares – uma variação da leitura oral repetida. O tutor lê uma breve história ou passagem. Em seguida a leitura é feita por ambos. Depois o individuo que se encontra em reabilitação lê em voz alta para o outro.
Antes de iniciar qualquer tipo de leitura faça um planejamento com o paciente, filho, aluno, que será trabalhado:

 Inicialmente levante dados sobre o assunto;

 Organize um mapa;

 Aponte o título da historia e o autor;

 Caso tenha uma ilustração explore-a;

 Folhear o livro, a historia, antes de lê-lo é interessante.

Durante a leitura comece comentando as primeiras frases ou os primeiros parágrafos da historia. Isso garante que o(a) jovem esteja ativamente envolvido(a) desde o inicio. As frases de abertura são cruciais, porque frequentemente estabelecem o ambiente para a historia inteira e apresentam o local e os personagens.
Após a leitura dos primeiros parágrafos dê uma pausa, e passe a refletir com o sujeito sobre os fatos, e levante o maior número de dados sobre o assunto. Faça algumas indagações. Este recurso deverá ser utilizado para toda leitura. Também é super importante neste processo estabelecer a quem, o quê, o onde, o quando e o porquê desde o início do trabalho. Essas informações representam a estrutura da historia e fornecem pontos de referência para a discussão, ancorando a narrativa.
Preveja os eventos futuros (leia uma passagem, pare, comente e peça para o indivíduo prever o que vai acontecer).
Saber esses fatos sobre a historia ajuda a visualizar o que está acontecendo e incentivá-lo(a) a criar imagens que associam ao lugar ou às pessoas. Ter essas imagens é mais uma conexão para com a ação do livro, da história, e para se obter melhor compreensão.
De vez em quando, peça ao sujeito para resumir um enredo, para recontar uma sequência de eventos ou para lhe dizer qual é a idéia central do parágrafo que acabou de ler. Explore os vocábulos difíceis, conceitos confusos.
Depois de concluir a leitura, peça ao indivíduo para resumir a historia, para lhe dizer o que aconteceu e quais são as suas impressões. Veja se ele(a) pode recontar os eventos em ordem. Se não, essa é a hora de usar papel e lápis para mapear visualmente o texto, a historia, elencar as causas e efeitos de uma determinada sequência de eventos.
Recomenda-se que nas férias este programa não seja interrompido.
Segue resumo das atividades que foram mencionadas neste artigo.

 Estabeleça um propósito para a leitura;

 Identifique o titulo e o autor;

 Comente a ilustração da capa. Se for texto realize o mesmo procedimento;

 Folheia as páginas e leia as questões sobre o assunto que será abordado;

 Faça as cinco perguntas – “quem”, “que”, “onde”, “quando”, e “por que”;

 Relacione a historia e os eventos ao conhecimento e aos interesses atuais do sujeito;

 Preveja os eventos futuros (leia uma passagem, pare,comente e peça ao individuo para prever o que vai acontecer);

 Resuma as ideias principais;

 Faça perguntas ao longo da leitura;

 Faça inferências;

 Esclareça palavras difíceis ou conceitos confusos;

 Use imagens e visualização;

 Organize as ideias no papel;

 Reconte a sequência de eventos;

 Aproveite a história, o texto para trabalhar questões gramaticais.

Bibliografia.

— VALETT, Robert E. Dislexia: Uma abordagem neuropsicológica para a Educação de Crianças com graves Desordens de Leitura. São Paulo – Editora Manole – 1989.

— SANTOS, Maria Thereza Mazorra dos & Ana Luiza G. P. Navas. Distúrbio de Leitura e Escrita: Teoria e Prática. São Paulo – Editora Manole, 2004.

— STACKHOUSE, Joy & Margaret Snowling. Dislexia, Fala e Linguagem – Um Manual do Profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.




























segunda-feira, maio 23, 2011

Aprendizagem e seus Valores


Aprendizagem e seus valores

Quando falo de aprendizagem, comento de um ser que pensa e que reage diante de diferentes situações vivenciadas de forma real, de forma intra e interpessoal, de um sujeito que carrega uma carga muitas vezes do não saber.
 Comento de uma vivência onde o indivíduo pode seguir ou não sua trajetória acadêmica, caminhar este que requer vasto conhecimento, não só das aquisições conquistadas e elaboradas no seu dia-a-dia, mas também conhecimento social, familiar e emocional.
O conhecimento familiar está atrelado aos valores que influenciam no seu cotidiano, no  julgamento do certo e errado, no  amadurecimento e nas suas decisões,  na busca enquanto caminhante de sua construção.
Não podemos  esquecer que fazemos parte da sociedade pós-moderna, que exige o aumento do conhecimento e especialidade. Novas aprendizagens estão incorporadas cuja aquisição nem sempre pode ser garantida simplesmente pela inserção do individuo na instituição de ensino, uma vez que a escola é apenas um dos diferentes contextos educativos.
A participação do sujeito dentro do contexto escolar é decisiva,  para que  possa adquirir e desenvolver determinadas capacidades consideradas essenciais para  o grupo social ao qual pertence.
É neste conjunto de busca que as  alterações pedagógicas e as dificuldades de aprendizagem,  surgem de forma inquietante dentro da instituição escolar e familiar amarrando todo o núcleo. O aluno por não compreender os fatos tenta buscar diferentes caminhos.
Trilha onde pauta a autorização desta família diante do saber deste sujeito. A parceria da família é de suma importância na vida escolar destes indivíduos. Onde a apreensão ocorre no tempo de cada ser, mas este deve ser estimulado e valorizado e não contemplado diante de suas falhas e faltas.
Tenho vivido experiências onde o cuidador não autoriza o seu ente querido a buscar sua aprendizagem, não permite que este tenha o desejo  de ousar, de seguir adiante para amadurecer e para refletir sobre a sua caminhada, tornando-se independente.
Quando o fracasso escolar vem à tona, a negação do não saber desta família explode como um vulcão. Saber muitas vezes velado, revelado dentro do núcleo que outrora estava camuflado ou adormecido.
Quando reveladas as inabilidades dos filhos,  os pais tendem a não aceitar, pois é um não saber que se torna caro. Medo deste filho não caminhar com sucesso, em ser discriminado pelos professores, o coitadinho do sistema escolar e do seu ciclo familiar.
Sinto que estes sujeitos estão limitados aos desejos dos pais, tornando-se difícil sair da redoma que lhe proporcionaram. Muitas vezes este lugar torna-se confortável, pois só assim consegue prover atenção dos seus pais.
Portanto, não ensinamos nossos filhos a buscar, a conquistar  seus desejos, assim formamos adultos sem sonhos, limitados, irresponsáveis esperando sempre que o “outro” lhe dê alguma coisa em troca.
E neste trajeto, sonhos são aniquilados por pura proteção, ou ignorância  por não permitir que o outro se frustre tanto quanto ele (pai/ mãe)  frustrou-se perante a busca  da sua aprendizagem em sua história escolar e familiar.
Lidar com as frustrações é abrir as comportas dos seus medos e anseios, do seu sofrimento.
 As frustrações devem ser vivenciadas, lidas e  analisadas pelo outro de maneira positiva, pois o mesmo necessita adquirir experiência de vida para ter noção do certo e do errado. Diante do amadurecimento o sujeito dá inicio a uma nova roupagem em suas elaborações, reorganiza  seu processo e avança cada vez mais em suas  lutas pelos seus ideais.
A aprendizagem é um processo que se efetua a partir de determinadas estruturas cognitivo-afetivas, as quais se modificam em contato com o meio externo provocando transformações, num constante intercâmbio entre quem aprende e o meio  no qual está inserido. A base do desenvolvimento da aprendizagem está tanto na relação que se estabelece com o outro, como nas capacidades e  nas motivações para aprender.
Segundo a Dra. Cristina M. Barreto Cupertino,  devemos “Entender  o sujeito não mais de um modelo ideal de ser humano, mas como um sujeito contextualizado e conseqüentemente diferente dos demais, pois estão inseridas no sistema familiar. E o acolhimento é necessário.” 
Reforça-se que  o crescimento do individuo depende  das necessidades constantes dos processos de maturação que são investidas pela família, escola e pelo grupo social que está inserido.
            Para que uma criança aprenda é necessário que ela tenha o desejo de aprender. E que, sobretudo, o desejo dos pais a autorizem. Como confirma Mannonni (1981), “as crianças andam não só porque tem pernas, mas porque seus pais assim o permitem”.
Toda criança precisa ter consentimento dos pais, ainda que inconsciente, para crescer. Segundo Bion (1994), o grupo familiar exerce um controle mútuo para impedir que qualquer membro faça contribuições diferentes daquelas ditadas pelas regras da família.
Augusto Cury relata em seu livro O vendedor de Sonhos -  “uma existência sem sonhos é uma semente sem solo, uma planta sem nutrientes”.
Será que eles saberão solucionar os conflitos da sua própria vida, ou estarão amarrados a uma dinâmica familiar utópica, cheias do desejo não revelado.
Acredito que devemos formar cidadãos/videira, pois qualquer um pode alcançar seus frutos e caminhar livremente com o seu saber.

Cuiabá, 23 de maio de 2011.

Maria Masarela Marques dos Passos
Pedagoga – Psicopedagoga – Formação em Dislexia e Psicanálise

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
BOSSA, Nádia A. – Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico. Artmed, 2002.
MORGADO, Maria Aparecida – Da Sedução na Relação Pedagógica: professor aluno no embate com afetos inconscientes, 2ª Ed. São Paulo, Summus, 2002.
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica Epistemológica Convergente, Porto Alegre, Artes Médicas, 1987.
SANTOS, Maria Thereza Mazorra dos  e Navas, Ana Luiza G. P.– Distúrbios de Leitura e Escrita – Teoria e Prática, Barueri – SP - Manole, 2004.
KUPFER, Maria Cristina – Freud e a Educação: o mestre do impossível, São Paulo, Scipione, 1989.
Cury, Augusto – O vendedor de sonhos e a revolução dos anônimos – São Paulo: Editora Academia de Inteligência, 2009.
MORGADO, Maria Aparecida – Da Sedução na Relação Pedagógica: professor aluno no embate com afetos inconscientes, 2ª Ed. São Paulo, Summus, 2002.
ELIA, Luciano – O conceito do Sujeito, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, Ed. 2004.
POLITY, Elizabeth – Dificuldade de Aprendizagem e Família: Construindo Novas Narrativas, Ed. Vetor, 1ª Edição, 2001.
MIRANDA, Margarete Parreira – Adolescência na escola – Soltar a corda e segurar a ponta, Formato Editorial Ltda., 2002.


quinta-feira, abril 28, 2011

FUNDAMENTOS DA PSICOPEDAGOGIA

FUNDAMENTOS DA PSICOPEDAGOGIA

 “A Psicopedagogia é uma nova área de atuação profissional que busca uma identidade, e que requer uma formação de nível interdisciplinar, o que já é sugerido no próprio termo Psicopedagogia”. (Bossa, 1995, p.31)

Breve Histórico da Psicopedagogia
Os primeiros centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa (1946) por Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica unindo conhecimento na área da Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, onde tentavam readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar, e atender crianças com dificuldades de aprendizagem apesar de serem inteligentes (BOSSA, 2000, p39).
Esta corrente europeia influenciou a Argentina. Buenos Aires foi a primeira cidade a oferecer o curso de psicopedagogia.
A Psicopedagogia chegou ao Brasil, na década de 70, com a colaboração de Jorge Visca. Nessa década já havia algum movimento científico / acadêmico em Porto Alegre.   
Os primeiros cursos formais de Psicopedagogia eram denominados de Reeducação Psicopedagógica, Psicopedagogia Terapêutica, Dificuldades Escolares, entre outros. Esses cursos ocorreram primeiramente em Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo.

O percurso da Psicopedagogia brasileira foi:

o   Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo (1980), posteriormente Associação Brasileira de Psicopedagogia (1985),

 Conceitos
Psicopedagogia.
Segundo o Dicionário Aurélio, é definido como “aplicação da psicopedagogia experimental à pedagogia”.

Bossa diz que a  psicopedagogia, como área de aplicação, antecede o status de área de estudos, a qual tem procurado sistematizar um corpo teórico prático próprio, definir o seu objeto de estudo, delimitar o seu campo de atuação, e para isso recorrer à Psicologia, Psicanálise, Linguística, Fonoaudiologia, Medicina e a Pedagogia.

Para Maria M. Neves, “ falar sobre psicopedagogia é, necessariamente, falar sobre a articulação entre educação e psicologia, articulação essa que desafia estudiosos e práticos dessas duas áreas”.

Para Kiguel, que também  tem contribuído nesse processo de construção do saber psicopedagógico, “historicamente a Psicopedagogia surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia, a partir das necessidades de atendimento de crianças com distúrbios de aprendizagem”,  afirma ainda  que o fracasso escolar não é só Pedagógico e psicológico, mas também  da desnutrição.

Scoz, diz que o objeto de estudo da psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O primeiro considera o objeto do estudo de psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento enquanto educável, e o segundo uma identificação, análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem.

Do ponto de vista de Weiss, “a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores”.

Segundo Jorge Visca, a psicopedagogia, perfilou-se como um conhecimento independentemente e complementar, possuída de um objeto de estudo – o processo aprendizagem – e de recursos diagnósticos, corretos e preventivos próprios.

Para Bossa a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem  humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las.

Atualmente  a psicopedagogia trabalha com uma concepção de aprendizagem de acordo com a relação do sujeito com o meio, suas disposições afetivas e intelectuais. Como já vimos anteriormente, na Psicopedagogia pode ser trabalhado o clínico e o preventivo. Como preventivo podem ser trabalhadas as questões didático-metodológicas, bem como a formação e orientação dos professores e aconselhamento dos pais. Diminuir e tratar os problemas já instalados. Como clínico, o psicopedagogo precisa conhecer o sujeito, quais os recursos de conhecimento que ele dispõe e como aprende e produz conhecimento.
É preciso que o psicopedagogo saiba o que  é ensinar e o que é aprender.
Leda Barone no II Encontro Psicopedagógico enfatiza que o psicopedagogo deve assumir a polaridade do seu papel como:

o   Levar em conta o papel da família como transmissor de cultura e, matriz dos primeiros modelos de aprendizagem;

o   Reconhecer a escola como um espaço onde o sujeito adquire conhecimentos que se transformam em saber;

o   Considerar a instituição hospitalar como elemento fundamental na realização de diagnósticos para a identificação de dificuldades de aprendizagem;

o   Favorecer a aprendizagem do sujeito ao assumir novas funções em seu contexto de trabalho.

 O psicopedagogo, no Brasil, ocupa-se  das seguintes atividades conforme Lino de Macedo:

1 - Orientação de estudos – organizando a vida escolar da criança quando esta não sabe fazê-lo espontaneamente como ler um texto, como escrever, como estudar, etc.

2 - Apropriação dos conteúdos escolares – propiciar o domínio de disciplinas escolares que a criança não vem atingindo bons resultados;

3 - Desenvolvimento do raciocínio – Os jogos são muito utilizados, criando um contexto de observação e diálogo sobre processos de pensar e de construir o conhecimento.

4 - Atendimento a criança – Atende a deficientes mentais, autistas, hiperativos ou com comportamentos orgânicos mais graves, podendo até substituir o trabalho da escola.

Para Alicia Fernández, esse saber só é possível com uma formação que se oriente sobre três pilares:

o   Prática clínica: em consultório individual, grupal e familiar;

o   Construção teórica: permeada pela prática;

o   Tratamento psicopedagógico-didático: construção do olhar e da escuta clínica.

 Quem é o Psicopedagogo?
Síntese extraída do Projeto de Lei nº 3124/97 do Deputado Barbosa Neto que regulamenta a profissão do Psicopedagogo.
Poderão exercer a profissão de Psicopedagogo no Brasil os portadores de certificado de conclusão em curso de especialização em Psicopedagogia em nível de pós-graduação, expedido por instituições devidamente autorizadas nos termos da legislação pertinente.

O Psicopedagogo:

1. Possibilita intervenção visando à solução dos problemas de aprendizagem tendo como enfoque o aprendiz ou a instituição de ensino público ou privado;

2. Realiza o diagnóstico e intervenção psicopedagógica, utilizando métodos, instrumentos e técnicas próprias da Psicopedagogia;

3. Atua na prevenção dos problemas de aprendizagem.

4. Desenvolve pesquisas e estudos científicos relacionados ao processo de aprendizagem e seus problemas;

5. Oferece assessoria aos trabalhos realizados em espaços institucionais;

6. Orienta, coordena e supervisiona cursos de especialização de psicopedagogia, em nível de pós-graduação expedidos por instituições, devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da legislação vigente.

                       TEORIAS QUE EMBASAM O TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO

Conhecer os fundamentos da Psicopedagogia requer refletir sobre suas origens teóricas, revisando os impasses conceituais na ação da Pedagogia e da Psicologia no processo ensino-aprendizagem, os quais envolvem tanto o social quanto o individual, tanto transformadores quanto reprodutores.
A psicopedagogia ainda se encontra em fase embrionária e seu corpo teórico encontra-se em plena construção. A cada dia surgem novas ideias, novas situações e mais transformações.
Bossa diz que podemos caracterizar a psicopedagogia como uma área de confluência do psicólogo (a subjetividade do se humano como tal) e do educacional (atividade especificamente humana, social e cultural). (200,p.28). O psicopedagogo ensina como aprende e, para isso, necessita aprender o aprender e a aprendizagem.           
Na aprendizagem o indivíduo ao se apropriar de conhecimentos e técnicas, constrói na sua interiorização um universo de representações simbólicas.
Historicamente,  a Psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem, uma vez que acredita que muitas dificuldades de aprendizagem se devem a inadequação da psicopedagogia institucional e familiar. Devido a complexidade do seu objeto de estudo são importantes à Psicopedagogia conhecimentos específicos de diversas outras teorias, as quais incidem sobre os seus objetos de estudos:
Como seres humanos, nos diferenciamos pela nossa capacidade de aprender, mudar, fazer história, na qual o pensar alicerça esse processo de mutação. Pensar envolve duvidar, perguntar, questionar. É uma maneira de investigar, pesquisar o mundo e as coisas, por isso mesmo encerra algo que perturba, provoca mal-estar, insegurança, porque aquilo que  nos parecia seguro foi atingido em nosso pensamento.
A Epistemologia e a Psicologia Genética se encarregam de analisar e descrever o processo construtivo do conhecimento pelo sujeito em interação com os outros e com os objetos.
A linguística traz a compreensão da linguagem como um dos meios que caracterizam tipicamente o humano e cultural: a língua enquanto código disponível a todos os membros de uma sociedade e a fala como fenômeno subjetivo, evolutivo e historiado de acesso a estrutura simbólica.
A Pedagogia contribui com as diversas abordagens do processo ensino-aprendizagem, analisando-o do ponto de vista de quem ensina.
Os fundamentos na Neuropsicologia possibilitam a compreensão dos mecanismos cerebrais que subjazem ao aprimoramento das atividades mentais, indicando-nos a que correspondem do ponto de vista orgânico, todas as evoluções ocorridas no plano psíquico.
Neste trabalho de ensinar e aprender, o psicopedagogo recorre a critérios diagnósticos no sentido de compreender a falha na aprendizagem. A investigação diagnóstica envolve a leitura de um processo complexo: como o individual, o familiar atual e passado, o sociocultural, o educacional e a aprendizagem.
Atualmente, a Psicopedagogia refere-se a um saber, e a um saber a fazer, as condições subjetivas e relacionais  especialmente familiares e escolares – as inibições, atrasos e desvios do sujeito ou grupo a ser diagnosticado. O conhecimento psicopedagógico  avalia a possibilidade do sujeito, a disponibilidade afetiva de saber e de fazer, reconhecendo que o saber é próprio do sujeito.
O trabalho clínico não deixa de ser preventivo, pois ao tratar alguns transtornos de aprendizagem, pode evitar o aparecimento de outros.
      Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo:

o   Detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem;

o   Participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer o processo de integração e troca;

o   Promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos;

o   Realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual ou grupal.    

Historicamente, a Psicopedagogia nasceu para atender a patologia da aprendizagem, mas está cada vez mais voltada para uma ação preventiva.
Devido a complexidade do seu objeto de estudo, são importantes à Psicopedagogia conhecimentos específicos de diversas outras teorias, as quais incidem sobre os seus objetos de estudos:      

 CAMPO DE ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA

Historicamente tanto na prática preventiva como na clínica, o profissional deve estar embasado em referencial teórico na sua função preventiva, onde cabe ao psicopedagogo:

o   Detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem;

o   Participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer processos de integração e troca;

o   Promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos;

o   Realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.


O QUE O PSICOPEDAGOGO OBSERVA NO INDIVÍDUO
       o   Coordenação motora ampla;

o    Aspectos sensório motor;

o   Dinâmica lateral;

o   Desenvolvimento rítmico;

o   Desenvolvimento motor fino;

o   Criatividade;

o   Evolução do traçado e do desenho;

o   Percepção e discriminação visual e auditiva;

o   Percepção espacial;

o   Percepção Viso-motor;

o   Orientação e relação espaço – temporal;

o   Aquisição e articulação de sons;

o   Aquisição de palavras novas;

o   Elaboração e organização mental;

o   Atenção e concentração;

o   Expressão plástica;

o   Aquisição de conceitos;

o   Discriminação e correspondência de símbolos;

o   Raciocínio lógico matemático.


A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA

 A psicopedagogia em seu desejo de conhecer mais sobre o outro para poder ajudá-lo a vencer suas dificuldades, superar seus problemas de aprendizagem e compreender os elementos que interferem nesse processo, em busca da autoria de pensamento, tem como o seu maior desafio: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
A busca do autoconhecimento, a busca da autonomia, permeada pela dimensão social, no que se refere aos valores e atitudes, a dimensão pessoal, no que se refere aos afetos, sentimentos e preferências dos indivíduos, todos esses fatos aliados ao desenvolvimento global explicam a importância crescente da Psicopedagogia que, na sua concepção atual, já nasce com uma perspectiva globalizadora condizente com os rumos da aprendizagem nesse século. Ela ocupa um espaço privilegiado justamente porque não está em um único lugar.
Portanto, o olhar, a escuta e as intervenções psicopedagógicas estão voltadas aos movimentos subjetivos entre ensinante e aprendente frente ao conhecimento, no decorrer da construção do sujeito no ato de aprender, tendo como finalidade a autoria do pensamento, que é a descoberta da originalidade, da diferença, da marca, e a partir daí ,  abrir espaços para a criatividade.
Aprender significa mudar, crescer, tendo o passado como referência para descobrir o futuro e assim construir uma nova história, diferente daquela vivida até então:

                                                                                                                                                                                        “Necessitamos um modo diferente de analisar a relação entre o futuro e o passado para entender o que acontece em todo processo de aprendizagem. Aprender é construir espaços de autoria e, simultaneamente, é um modo de ressituar-se diante do passado”. (Fernández,2001:69).


O trabalho psicopedagógico pode ter um caráter preventivo, no sentido de reconstruir processos, definir papéis, valorizando novos conhecimentos, novas formas de aprender, novas formas de avaliar o conhecimento, pessoas, papéis, processos, produtos e objetivos.

A Psicopedagogia Clínica e Institucional
Dependendo da natureza da Instituição, a Psicopedagogia pode contribuir trabalhando vários contextos:

— Psicopedagogia Familiar – resgatando a família no papel educacional, diferenciando as múltiplas formas de aprender, respeitando as diferenças dos filhos.

— Psicopedagogia Empresarial –  resgatando a visão do todo, a  função        humanística,  as múltiplas inteligências, desenvolvendo sentimentos, trabalhando a criatividade e resgatando o diálogo.

— Psicopedagogia Hospitalar– possibilitando o lúdico e as oficinas.

— Psicopedagogia Escolar

o   Diagnóstico da Escola;

o   Busca da identidade da escola;

o   Definições de papéis na dinâmica relacional em busca de funções e identidades, diante do aprender;

o   Instrumentalização de professores, coordenadores, orientadores e diretores sobre a prática e reflexões diante de novas formas de aprender;

o   Reprogramação curricular, implantação de programas e sistemas avaliativos;

o   Oficinas para vivências de novas formas de aprender;

o   Análise de conteúdos e reconstrução conceitual;

o   Releitura, ressignificando sistemas de recuperação e reintegração do aluno no processo;

o   O papel da escola no diálogo com a família.

 OBJETIVOS DA PSICOPEDAGOGIA DO DESENVOLVIMENTO

1. Descrição da gênese e mudanças de conduta.
Consiste na descrição da gênese das condutas psicomotoras, afetivas, cognitivas e sociais, e do processo de mudanças dessas condutas ao longo da vida.
Estabelece relações entre os eventos do ambiente e o comportamento humano. Ex. O sorriso.
Os verdadeiros sorrisos aparecem por volta da terceira semana de vida, provocados por estimulação externa, voz humana, chocalho, etc. Na sexta semana o estímulo é a face humana e na sétima semana é a familiarização.

2. Fatores que afetam o desenvolvimento das condutas.
Refere-se à descoberta de fatores, mecanismos e processos responsáveis  pelo aparecimento das condutas e das mudanças.
São genéticos e ambientais como comportamentos inatos ou aprendidos, instintivos ou inteligentes, de maturação ou aprendizagem.
Essa classificação dicotômica coloca a discussão dos determinantes do comportamento em duas posições antagônicas: A primeira é que cada pessoa nasce com um conjunto de aprendizagem social.
Os fatores genéticos = estrutura herdada. E a segunda é  capacidade de organização do desenvolvimento de cada um.
O ser humano nasce com um repertório inicial de comportamento e capacidades que irão mediar sua interação com o ambiente. Repertório inicial: sucção, gustação, tato, visão, audição, são sensíveis ao estímulo fornecido pelo corpo da mãe.
O bebê apresenta desde o nascimento uma organização perceptiva muito elaborada que pode ser identificada pela discriminação e preferências por certos estímulos visuais e auditivos. A interação, organismo-meio, o conduz ao desenvolvimento da relação social.
O primeiro ano de vida – comunicação basicamente não verbal.

3. Identificação de estágios ou fases no desenvolvimento
Diz respeito ao estabelecimento de períodos críticos no processo de desenvolvimento.
A maioria dos estudiosos admite que o desenvolvimento humano ocorre por estágios ou etapas que se diferenciam pela qualidade da cognição (processo integração), do comportamento (resultado das intervenções disciplinares), das relações pela qualidade da cognição, do comportamento, das relações afetivas, etc.

 OS CASOS COMUMENTES ENCONTRADOS NA ESCOLA

 ANSIOSO – caracteriza-se por ansiedade, depressão, sentimento de inferioridade, solidão ou infelicidade.

 IMATURO – é agitado, descuidado, passivo, falta-lhe iniciativa e interesse. Apresenta reações afetivas sem razão aparente, como chorar ou gargalhar;.

 HIPERATIVIDADE – Tem um tempo de concentração curto, é incansável;

 EXPLOSIVO – Não controla seus impulsos agressivos, tem atitudes destrutivas com relação ao material escolar, resiste a submeter-se a regras.

AUTISMO – caracteriza-se por respostas anormais e estímulos auditivos ou visuais e por problema grave quanto à compreensão da linguagem falada.

AGRAFIA – Impossibilidade de escrever e reproduzir os seus pensamentos por escrito.

DISCALCULIA – Dificuldade para a realização de operações matemáticas usualmente ligadas a uma disfunção neurológica, lesão cerebral, agnosias digitais e deficiente estruturação espaço-temporal.

DISGRAFIA – Escrita manual extremamente pobre ou dificuldades de realização dos movimentos motores necessários a escrita.

 DISLEXIA – A criança é inteligente e criativa, porém, apresenta dificuldades de leitura, escrita e soletração. Lê repetidas vezes mas não entende o texto. Tem dificuldades para colocar os pensamentos em palavras. Dificuldades de lateralidade . Excelente memória para experiências, lugares e rostos.

DISORTOGRAFIA – Dificuldade na expressão da linguagem escrita, revelada por fraseologia incorretamente construída, normalmente associada a atrasos na compreensão e na expressão da linguagem escrita.

 CADA PESSOA É COMO UM DIAMANTE QUE PRECISA SER LAPIDADO

A lapidação é um trabalho que exige sabedoria, precisão e paciência. Cada pessoa é um diamante, que vem ao mundo em estado bruto. O trabalho de cada um de nós é descobrir como se lapidar para se transformar numa pedra preciosa de muito valor.
Nascemos e crescemos com determinadas características: mais explosivos, mais impacientes, tímidos, egoístas, intolerantes, malvados, irritadiços, medrosos ou impulsivos.
No decorrer da vida, muitas pessoas, situações e acontecimentos participam ativamente desse processo de lapidação: Os pais e os familiares que nos influenciam, o grupo social que nos encoraja ou nos oprime, o ambiente de estudo e de trabalho que nos exige, amoldam, direciona...
O que temos em excesso que precisamos abrandar? O que nos falta que precisamos desenvolver ou expandir?
É preciso que cada um de nós pense assim: Qual será o trabalho de lapidação necessária para que eu me coloque  no caminho do equilíbrio interior, que vai me proporcionar paz, harmonia, serenidade e força?
Esse é um trabalho de vida inteira; é para crianças, jovens, adultos e velhinhos. E ninguém se iluda: Esse trabalho é cansativo e, às vezes, dói bastante. Mas é o que nos permite atravessar os períodos difíceis sem nos quebrar por dentro e que nos permite viver com mais alegria os períodos fáceis.
Pesquisa feita em sites da INTERNET.